A vereadoraBárbara Porto Cavalcante (PT), única mulher com mandato na Câmara Municipal de Potiretama, denunciou o presidente da Casa, o vereador Cleverlandio Pereira Bezerra, eleito pelo PP, por violência política de gênerodurante sessão realizada no último dia 29.
A petista, que integra a oposição ao prefeito Luan Dantas, criticou a gestão da Saúde do unicípio. Na sessão, Cleverlandio saiu em defesa do Executivo municipal, criticou a colega de parlamento e fez ponderações até sobre as roupas da vereadora. O mandatário nega as acusações.
O caso ocorreu na noite do último dia 29, durante sessão ordinária da Casa. No fim da reunião, o presidente se dirigiu à vereadora e questionou se “ela vive em outro mundo”. Cleverlandio se disse decepcionado e envergonhado com uma entrevista concedida pela vereadora a uma emissora local três dias antes.
“Se for falar besteira, se esconda, saia por fora, é melhor que passar vexame”, aconselhou. O político ainda questionou se Bárbara tem “distúrbio mental” ou “problema de esquecimento”. Em seguida, o político fez uma série de perguntas sobre dados técnicos da saúde municipal e seguiu nas acusações contra a colega.
Ela disse ainda que a prática é recorrente. “Em junho ele já tinha feito algo parecido, sendo menos agressivo. Na época, ele só tentou me diminuir me chamando de ‘laranja’”, acrescentou.
Segundo a vereadora, denúncias contra Cleverlandio foram protocoladas no Ministério Público Federal (MPF). Ela ainda acionou a Procuradoria da Mulher e a Frente Parlamentar de Combate à Violência Política de Gênero da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).
Em nota pública, a Procuradoria da Mulher da Alece repudiou a conduta do vereador. “A vereadora foi atacada (…) com acusações de cunho discriminatório e sexista, atentando à sua liberdade de expressão, bem como desrespeitando a sua honra por meio de injúria e difamação”, aponta a nota assinada pela procuradora, a deputada estadual Lia Gomes (PDT).
“O discurso do vereador Cleverlandio é de conteúdo agressivo, com o objetivo claro de constranger, humilhar e discriminar a parlamentar no exercício de suas funções. Tal conduta se enquadra na Lei nº 14.192, de 04 de agosto de 2021, que tipifica a violência política contra a mulher”, acrescenta.
Presidente da Frente Parlamentar de Combate à Violência Política de Gênero da Alece, a deputada estadual Larissa Gaspar (PT) também repudiou os atos contra a vereadora.
“Cobrarei providências para que os responsáveis por práticas e falas machistas e misóginas contra Bárbara respondam por seus atos. Não aceitaremos que nenhuma mulher tenha sua fala e sua atuação como parlamentar desqualificadas e desrespeitadas no exercício de seu mandato”, escreveu a petista.
Nas redes sociais, o presidente da Câmara de Potiretama se defendeu das acusações e disse não ter cometido violência política de gênero, nem agido de forma machista. “Isso me entristece, ver pessoas que não conhecem a nossa realidade apontando os dedos, me julgando e condenando sem conhecer minha história de luta pelo meu povo potiretamense. Todos os potiretamenses me conhecem e sabem que calúnias e acusações infundadas não me farão baixar a cabeça, seguirei de cabeça erguida lutando pelo nosso povo”, argumenta o político.
Como argumento de defesa, ele falou sobre sua orientação sexual. “Sou homossexual e nunca escondi em nenhuma repartição pública a minha orientação sexual, tenho muito orgulho da capacidade que desenvolvi de aceitar minha sexualidade. Admiro as mulheres e as respeito sempre, as mesmas sempre foram e continuam sendo minha inspiração em todas as áreas de minha vida”, disse o político.
Ele ainda ponderou que, apesar de “ser do sexo masculino”, tem uma “alma que se difere dele”. O mandatário disse ainda que respeita a diversidade de crença, raça, religião e “principalmente de gênero”.
“Agredir qualquer tipo de pessoa por sua condição, seja de qualquer uma dessas diversidades, não faz parte de minha índole, nunca fez e nunca fará parte de minha conduta. Na minha vida política, sempre fui privilegiado por ter, junto ao meu eleitorado, uma grande maioria de eleitoras mulheres e me orgulho de ter sempre defendido e trabalhado pelas causas femininas”, seguiu o vereador.
“O erro que ora me é imputado, esse eu não cometi, mas entrego tudo a Deus, pois só Ele sabe de tudo e de todos”, finalizou o parlamentar.
O vereador foi procurado pela reportagem, mas não houve retorno.
Diário do Nordeste