Neste mês, num barco nas águas calmas do Rio Tibre, em Roma (Itália), seis mulheres foram ordenadas por um grupo católico clandestino que vem desafiando o Vaticano.
Um delas foi Rocher, uma francesa trans de 68 anos, que vestia túnica branca com uma estola de arco-íris. Ela reconhece que a sua ordenação não é autorizada pela Santa Sé, mas disse não se importar.
“Eles vêm repetindo a mesma mensagem há 2.000 anos — as mulheres são inferiores, subordinadas, invisíveis. Está tudo bem. Já esperamos o suficiente, então estou fazendo isso agora”, disse Rocher à agência France Presse.
A cerimônia que ordenou Rocher e mais cinco (incluindo outra trans) foi organizada com a máxima discrição na presença de cerca de 50 fiéis de vários países, e seguiu a mesma liturgia de uma missa oficial, com leituras da Bíblia, cantos e comunhão. No convés superior da embarcação, as seis candidatas se comprometeram a “servir o povo de Deus” diante de um altar decorado com velas e duas coroas de flores. Então, um por um, os membros da congregação secreta impuseram as mãos sobre as cabeças das recém-ordenadas para abençoá-las.
A lei canônica do Vaticano indica que o grupo deve ser excomungado. Bridget Mary Meehan, uma “bispa” dos EUA, rebate a excomunhão. Ela esteve no grupo que fez o evento no Tibre e é uma das líderes do grupo dissidente que garante já ter ordenado “padre” 270 mulheres em 14 países desde a sua criação, em 2002.
“Por 22 anos, trabalhamos duro para criar uma igreja mais inclusiva e amorosa, onde LGBTQ, divorciados e recasados, todos são bem-vindos à mesa. Ninguém é excluído”, declarou Meehan, de 76 anos.
Nas últimas semanas, associações feministas multiplicaram iniciativas para pressionar o Sínodo em andamento, que começou em 2021 e deve terminar neste mês.
Os grupos — ocasionalmente apoiados por teólogos — condenam a forma como as mulheres são marginalizadas pelo sistema patriarcal, apesar de seu papel central nas paróquias ao redor do mundo.
Alguns participantes do Sínodo dizem que os apelos por mais inclusão de mulheres são um conceito “muito ocidental” e que certas regiões do mundo, como a África, ainda não estão prontas para mulheres diaconisas por razões culturais.
Desde que se tornou pontífice em 2013, o Papa Francisco tem repetidamente enfatizado os méritos das mulheres. Em setembro, o líder da Igreja Católica declarou:
“A Igreja é uma mulher!”
O pontífice argentino também nomeou mulheres para papéis importantes dentro do governo da Santa Sé.
A Igreja Católica tem uma interpretação legal da doutrina que indica o sacerdócio como uma prerrogativa dos homens. O cânone 1024 afirma que “somente homens batizados recebem a ordenação sagrada de forma válida”.
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