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Cearense de Aracoiaba encontra na cajuína artesanal fonte de renda para agricultores familiares

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O Ceará possui a maior área cultivada de caju do País. No entanto, estima-se que 90% do pedúnculo, parte carnosa do fruto, sejam desperdiçados, porque a indústria foca na extração da castanha, conforme estudos. Mas nas mãos do agricultor Silvanar Soares Pereira, de 53 anos, a fruta ganha outra história.

Em Aracoiaba, no Maciço do Baturité, ele transforma a carne do caju cultivado por 42 famílias em cajuína. Após dois dias de pasteurização artesanal, o produto chega às casas de cerca de 500 consumidores na Grande Fortaleza.

Antes desse resultado, contudo, foram diversos desafios ao longo dos últimos cinco anos. Entre eles, a falta de recursos, que o agricultor tem conseguido enfrentar com a criatividade. 

Para se ter ideia, Silvanar partiu uma moto ao meio para transformá-la em um veículo de carga capaz de transportar até 1500 quilos de insumos e desenvolveu uma escova elétrica, utilizando um motor de bomba d’água, para higienizar garrafas reutilizadas. 

Essa história começou em 2018, quando o agricultor, que é filho do profeta de chuva Chico Soares, decidiu fazer cajuína e beiju para comemorar o centenário do pai. Os convidados gostaram tanto da bebida que começaram a perguntar como poderiam comprá-la. 

Silvanar percebeu um mercado a ser explorado, mas precisou do incentivo do seu pai, de maneira bem cearense, para começar a planejar o negócio.

“Ele disse: meta as caras, seu besta, que eu ajudo”, lembra. Assim surgiu a ideia da Cajuína São João. Para colocá-la em prática, adaptaram a casa de farinha da propriedade familiar e conseguiram financiamento por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf).

O profeta morreu dois anos depois, mas o filho seguiu com o projeto, ao lado do irmão e de parte da família. Para este ano, Silvanar prevê produzir 60 mil litros do produto, superando a marca de 42 mil litros de 2023. 

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Mas não são os números que sustentam a Cajuína São João. O objetivo do agricultor é valorizar a cultura alimentar, buscando políticas públicas para a cajucultura.

Dessa forma, acredita, conseguirá gerar renda para a comunidade e incluir a cajuína natural, rica em vitamina C, na merenda escolar dos cearenses.

“Não penso em riqueza nem em ser um grande empresário. Minha ambição é conseguir pagar a diária das famílias que produzem e investir em arte e cultura da comunidade”, disse Silvanar.

A cajuína como conhecemos hoje foi desenvolvida pelo farmacêutico Rodolfo Teófilo, no século XIX, no Ceará.

Teófilo utilizou a técnica francesa de pasteurização em banho-maria para aprimorar a bebida de origem indígena. Apesar de ter sido recriada em solo cearense, a cajuína é mais consumida no Piauí, onde se tornou um patrimônio cultural brasileiro.

“O povo piauiense faz bem em gostar tanto, mas queremos que o mesmo aconteça aqui, com essa fruta maravilhosa, genuinamente nossa, com políticas públicas para que a cajucultura seja valorizada e gere renda”, observa.

Entre setembro e novembro, Silvanar promove o dia de campo da Cajuína São João, levando clientes para conhecer o processo e produzir a bebida com as próprias mãos. Na ocasião, é oferecido um almoço, sendo todo o cardápio feito à base do caju e da castanha. 

Essa iniciativa demonstra todo o potencial da fruta que, além da cajuína, pode ser utilizada para fertilizantes e combustíveis sustentáveis, doces e inúmeros e outros alimentos.

Consequentemente, agrega-se valor econômico ao território, enriquece a cultura e a identidade regional, gerando emprego e renda para a cadeia produtiva, assim como ocorre com o açaí na Amazônia

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A produção de cajuína do Silvanar só baterá recorde este ano se o microcrédito do programa Agroamigo, do Banco do Nordeste, chegar a tempo. Além da demora do repasse do recurso, um desafio para escalar a mercadoria é o envasamento.

Atualmente, são reutilizadas garrafas transparentes de cachaça (500 ml) e de cerveja (250 ml). Todavia, esses recipientes, que contêm o nome da marca das bebidas alcoólicas em alto-relevo, não são aceitos pelos supermercados, por exemplo. Por isso, a maioria das vendas é feita diretamente para o consumidor final ou em feiras. 

De acordo com o presidente da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Nonato Barbosa, será realizado estudo em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae) para solucionar o problema. 

“Nosso objetivo é exportar a cajuína, mas, inicialmente, queremos vender mais para outros estados, a começar pelo Nordeste”, explica.

Segundo Nonato Barbosa, hoje, há 55 cooperativas filiadas, totalizando 150 produtores da bebida artesanal no Ceará. 

O cooperativismo é uma organização social e econômica baseada na cooperação, solidariedade e no bem-estar coletivo. Na prática, as pessoas se organizam voluntariamente para se mobilizar pelas demandas econômicas (como acesso ao crédito), sociais e culturais, construindo um ambiente mais democrático e com equidade.

A próxima jornada das cajuínas ocorre entre os dias 5 e 7 de novembro próximos. Os interessados podem solicitar o produto para entrega em domicílio a partir de um fardo, no valor de R$ 55, pelo telefone (85) 99604-6224 (WhatsApp).

Diário do Nordeste

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