A cabeleireira Tatiane Freitas, de São Paulo, passou cinco anos lidando com dores e incômodos na barriga, que começaram após realizar uma cesárea para o nascimento de seu filho.
Em março deste ano, ela finalmente resolveu o problema: retirou uma compressa cirúrgica que foi deixada em seu abdômen em janeiro de 2020, durante o parto. O objeto semelhante a uma gaze tinha cerca de 15 centímetros.
Tatiane entrou com uma ação judicial contra o Hospital da Luz, onde a cesárea foi realizada, e a Amil, responsável pela unidade. Ela pediu a retirada do objeto com urgência, com cobertura dos custos pela Amil e indenização por danos morais.
“O Hospital da Luz informa que solicitou perícia médica à Justiça e que não houve, até o momento, decisão de mérito no processo judicial que está em curso. O hospital reitera que está à disposição da Justiça para os esclarecimentos necessários”, disse a Amil em nota.
A cabeleireira passou por quatro médicos ao longo dos últimos cinco anos e recebeu diferentes diagnósticos sobre o que causaria a dor, como isquemia intestinal, massa de gordura e até um tumor.
SENTIU DORES AINDA NO HOSPITAL
Tatiane lembra que sentiu fortes dores ainda no hospital, após o nascimento do filho. “A todo momento eu reclamava e as enfermeiras falavam: ‘mãezinha, é normal, são os órgãos voltando para o lugar’”, contou.
Nos primeiros dias em casa, ela não conseguia suportar o peso do filho recém-nascido sobre a barriga e precisava colocar um travesseiro entre ela e o bebê para amamentar.
A cabeleireira continuou a sentir dores após o período de recuperação da cesárea. Como a pandemia de Covid-19 começou logo depois, ela não conseguiu procurar atendimento médico.
Ela continuou a saga de diagnosticar o quadro dois anos depois. “Quando eu ficava deitada, eu sentia ele pulsando”, lembra.
Em 2023, recebeu o diagnostico de lipoma, um tumor benigno que surge pelo crescimento de células gordura. O médico desaconselhou a cirurgia para remoção, porque se trataria de um tumor pequeno.
Ao mesmo tempo, ela investigava fibromialgia, doença que casa dores crônicas nos músculos.
DOR INTENSA E DIAGNÓSTICO FINAL
A situação de Tatiane voltou a se agravar em agosto de 2024, enquanto ela tentava fazer uma postura de ioga que realiza pressão no abdômen. “Eu urrava de dor, não aguentei de tanta dor. Falei, não é normal, está acontecendo alguma coisa. Não é normal”, diz.
Ela procurou um novo médico e realizou mais um ultrassom, que finalmente identificou um ‘corpo estranho’ no organismo da cabeleireira.
A médica explicou que o corpo dela criou uma cápsula protetora ao redor do objeto. Tatiane realizou novo exame, uma ressonância, no hospital que tinha dado à luz.
Após contar o motivo do exame, ela percebeu uma movimentação estranha e teve dificuldades de marcar consulta com um cirurgião e de receber o pedido de cirurgia.
“O problema não é o erro, o problema é como o erro é retratado. Eu não tive esse respaldo em nenhum momento. Eu escutava coisas que só me deixavam cada vez mais revoltada, porque eu falava, ‘pô, eles que erraram e eu que tenho que aguentar tudo isso?’”, lamenta.
A cabeleireira precisou lutar na Justiça para que a cirurgia fosse realizada em outro hospital e urgentemente. Ela ressalta que registrou reclamações na Ouvidoria do plano de saúde e não obteve retorno do pedido médico de cirurgia.
O procedimento foi realizado em 18 de março, mais de três meses depois após a liminar que autorizava a cirurgia. “Se eu disser que tive uma maternidade onde pude dar o meu melhor para ele, não é verdade, porque, com dores, às vezes impaciente, preocupada, pensando, o que será esse caroço?”.
DN