A taxa de natalidade em países desenvolvidos está caindo a níveis alarmantes. Num país a situação é ainda mais dramática: a Rússia. A maior nação do planeta lida com centenas de milhares de perdas de jovens na guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, e muitos outros debandaram do país para não ser convocados pelo Exército — que será ampliado, de acordo com decreto assinado na semana passada por Putin, que deseja repor as perdas no front ucraniano.
Nos primeiros seis meses de 2024, a Rússia registrou a sua menor taxa de natalidade desde 1999, com menos de 100 mil nascimentos em junho. De acordo com a Rosstat, o serviço oficial de estatísticas do país, 599.600 crianças nasceram no primeiro semestre de 2024 — uma queda de 16.000 em comparação ao mesmo período em 2023.
Como reagir ao declínio populacional? Vários veículos da mídia ocidental, como a “Newsweek”, o “NY Post” e a emissora CBC, e apontam que o presidente Vladimir Putin estaria incentivando os russos a fazerem sexo no trabalho. Mais especificamente na hora do almoço.
Putin destacou que aumentar a taxa de natalidade é a “maior prioridade nacional”, alegando que a sobrevivência e o futuro da Rússia estão em jogo. Para reforçar o apelo, o Ministro da Saúde, Yevgeny Shestopalov, disse que estar ocupado no trabalho não é desculpa para não ter filhos.
Na “batalha interna”, Putin reeditou um decreto da era stalinista que premia as mães russas que tiverem o décimo filho. O programa se chama “Mãe Heroína”, que dá medalha e dinheiro. Além disso, o Kremlin incentiva que jovens russos frequentem acampamentos com temática nacionalista ondem podem conhecer a futura mãe dos seus filhos.
Em algumas regiões, estudantes em período integral que se tornarem mães receberão compensação financeira. Em Moscou, a autoridade de saúde está expandindo o acesso gratuito a testes e tratamentos de fertilidade.
No início da semana passada, na capital russa, mulheres entre 18 e 40 anos começaram a receber encaminhamentos para testes de fertilidade como parte de um novo programa em toda a cidade. As russas foram convidadas a participar de um teste que mede a quantidade de hormônio antimulleriano no sangue. O hormônio, que é produzido pelos ovários, reflete a reserva ovariana de uma mulher, ou o número de óvulos saudáveis e imaturos em seu sistema reprodutivo. Se os testes mostrarem que as mulheres têm uma reserva ovariana baixa, elas receberão tratamentos, incluindo a opção de congelar alguns de seus óvulos.
Lada Shamardina, uma jornalista russa, diz que a estratégia do governo para aumentar a taxa de natalidade inclui algumas medidas positivas, mas destacou que algumas mulheres nas redes sociais estão classficando a campanha como intrusiva. Muitas delas relatam ter recebido um convite para participar do programa governamental sem ter manifestado qualquer interesse, completou Lada.
No Telegram, uma usuária disse ter se sentido como a personagem central da série “O Conto da Aia” (“Handmaid’s Tale”) vivida por Margaret Atwood, na qual mulheres são forçadas a gerar filhos para a elite política por meio de barriga de aluguel.
Ao discursar para uma multidão no Fórum das Mulheres Eurasianas, realizado em São Petersburgo, na quarta-feira (18/9), Putin elogiou a política governamental voltada para ajudar as mulheres a atingir o equilíbrio máximo — sucesso profissional enquanto são o eixo “de uma família grande”. O presidente afirmou que as russas conseguem lidar com isso facilmente e ainda permanecem “bonitas, gentis e charmosas”.