Aos romanticamente assumidos, uma dúvida: como fazer um pedido de casamento inesquecível? Paulo Othavio mostra o caminho. E o faz com propriedade. Tem a ver com imaginação, ousadia e, claro, dose extra de amor. Os ingredientes resultam em algo como levar a pessoa para o fundo do mar e manifestar por lá o desejo de trocar alianças. Já pensou?
Aconteceu há um ano. Médico de 30 anos de idade com foco em Medicina Paliativa, Paulo é natural de Minas Gerais e reside em São Paulo. À época, recebeu oportunidade de viajar a Fortaleza para participar de um congresso. Levou a namorada, a também médica Elena Zuliani, para acompanhá-lo. O convite para estar ao lado reservava planos maiores, porém.
Ao constatar que, feito ele, a parceira era apaixonada por mergulho, resolveu entrar em contato com uma empresa da cidade especializada no segmento. Reservou data, local de encontro e detalhes. Também revelou o desejo de pedir Elena em casamento durante algum instante da experiência. Não deu outra: o responsável pelo negócio prontamente topou.
Chegado o dia, frio na barriga, aquele nervosismo de coisa grande prestes a acontecer. Elena não sabia de nada, era surpresa. Para dar tudo certo, Paulo pensou em imprimir um papel, plastificá-lo e, então, mostrar a ela no fundo do mar. O dono da empresa, contudo, foi além: produziu um pequeno banner personalizado, cheio de ternura e aconchego.
“Quando chegamos lá, o guia do passeio guardou o banner e esquematizamos um lugar mais tranquilo, onde Elena pudesse sentar. Então, a 22 metros de profundidade, tive oportunidade de realizar esse sonho – meu e dela. Ela ficou em choque com o pedido feito assim. Quando saímos do mar, era aquele misto de emoções”, conta Paulo, sorriso no canto da boca.
A aliança foi entregue fora do oceano, claro. Não poderia haver risco de perdê-la na imensidão de água. Sob as ondas, o destaque foi para outras coragens. Trocar um belo beijo naquela profundidade toda, por exemplo. E o próprio fato de aceitar casar com alguém. Mar Becker um dia escreveu: “o amor fez de mim este animal delicado”. O que é isto senão olhar para si e se reconhecer necessitado de um bem-querer pertinho?
A boa notícia é que a história de Paulo e Elena contorna outras paisagens além do litoral. Apesar de nascerem em locais diferentes – ele é de Minas, ela do Paraná – encontraram-se em Cuiabá para cursar a faculdade de Medicina na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Durante a formação, namoraram ao longo de quatro anos. O destino, contudo, em algum momento quis que não ficassem mais juntos, e cada um foi para um lado.
Mas a amizade prosseguiu. Seguiram se falando, cuidando um do outro, bem-vinda companhia. Elena voltou para o Paraná, Paulo foi trabalhar no Mato Grosso do Sul. Até que, de algum modo, São Paulo tornou-se casa comum, e o reencontro foi imprescindível. Quando menos previram, estavam juntos novamente. “Desses reencontros feitos pra casar, não dava mais pra voltar para a fase do namoro”, gargalha Paulo.
Hoje, ambos fazem especialização – ele em Medicina Paliativa, ela em Pediatria – e querem, num futuro breve, mudar de endereço. Buscar um lugar mais tranquilo. Brincam que são alma-gêmea. Embora de cidades distintas, foram estudar na mesma instituição; os pais dos dois são transplantados; e há essa atração muito forte pelo mar, capaz até de um feito como aquele: de onde já se viu pedir alguém em casamento no mais profundo do oceano?
É coisa de conexão. Motivo inexplicável, vidas passadas. E, sobretudo, o gosto por partilhar o amor como sentido de vida: pelo que se faz, pelas pessoas ao redor – ambos atuam em projetos de voluntariado – e pelo que se é quando o outro está próximo. “O amor é algo que dá e faz sentido. É no que a gente se apega quando as coisas estão difíceis, e encontra alguém disposto a ouvir, passar pelas dificuldades, motivar. É um privilégio”.
Nessa toada, um dos maiores sonhos é ser pai e mãe. Outro é reservar mais tempo na rotina para atividades de apoio voluntário. E, sem dúvidas, prospectar outros instantes junto às águas. Mergulhar na Austrália, na Tailândia, no Caribe, em qualquer mínimo pedaço de litoral brasileiro. Constatar que o carinho também é mar. E que, quem sabe, até casar debaixo d’água pode ser possível. Só o aconchego dirá.
“Que a gente continue encontrando felicidade nesses instantes. Diante das tantas definições de amor, uma das que levo comigo é ter a Elena, esse companheirismo que ela tem por mim, e eu por ela, como sinônimo de reciprocidade, verdade, de coisa única que preenche muitas lacunas da vida”. Fazer do banal o inesquecível.
DN