Um canhão do século XVII será levado ao 10º Depósito de Suprimento, conhecido como “Depósito Forte São Sebastião”, ligado à 10ª Região Militar, em Fortaleza, na próxima segunda-feira (30), conforme informação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A peça de ferro fundido possui 3,20 metros de comprimento e calibre de 14,5 centímetros, sendo encontrada em setembro de 2021 nas escavações para obras na área interna do Complexo Cultural Estação das Artes, no Centro de da capital cearense.
O artefato foi encontrado há 3 anos no terreno da antiga Estação Ferroviária João Felipe – que junto ao entorno é reconhecida pelo Iphan como um dos sítios arqueológicos de Fortaleza – com outros objetos utilizados por trabalhadores durante obras de escavações para a transformação da antiga estação ferroviária.
No espaço, funcionam atualmente a Pinacoteca do Ceará, o Museu Ferroviário, o Centro de Design, o Mercado AlimentaCE e as novas sedes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) e do Iphan-CE. Na época, uma empresa executava o programa de acompanhamento arqueológico quando o objeto foi achado e identificado.
A peça, segundo o representante da empresa ARC Soluções em Arqueologia, Luís Mafrense, responsável pelo Programa de Acompanhamento Arqueológico da Linha Leste e da Estação das Artes, “tem similaridades com os outros canhões que já estão na Praça dos Canhões na 10ª Região Militar, onde fica o Forte de Nossa Senhora de Assunção. Por isso, vai ficar sob guarda dos militares”.
Quando foi descoberto, relata ele, o canhão foi transferido para um local protegido na própria área da estação e ficou armazenado em uma caixa nas proximidades da recém inaugurada nova sede do Iphan, dentro do terreno da Estação. “Até devido ao peso dele não teve como tirarmos do local”, afirma.
Além disso, explica que o transporte do canhão envolve questões burocráticas relativas à movimentação de bens arqueológicos. Enquanto aguardava o desfecho, o objeto ficou sob os cuidados do Instituto de Pesquisa e Guarda Arqueológica (IPGA).
Ele relata que apesar do tempo de espera – cerca de 3 anos – não houve interferência na preservação do canhão, que “está em ótimo estado de conservação dentro das possibilidades (visto que ele foi encontrado em estado corrosivo)”. A cerimônia de transladação será acompanhada por uma equipe de arqueólogos, que deve monitorar o cumprimento dos requisitos técnicos nesse procedimento.
O formulário de solicitação de movimentação de bens arqueológicos detalha que a peça está sob uma caixa de madeira no pátio externo de onde ficava a Estação Ferroviária.
O canhão será içado por um maquinário com cordas semiestáticas até um caminhão baú, devidamente paramentado para o acondicionamento. A peça será movida por cerca de 500 metros, depois será higienizada e vai receber um tratamento.
O Major Gustavo Augusto de Araújo Chaves Pereira, chefe do Centro de Cultura Regional Militar, reconhece a importância desse processo devido ao valor histórico do canhão. “Nós temos um modelo parecido, um canhão inglês, porque os ingleses forneceram um material bélico quando a Holanda estava em guerra com a Espanha no séculos XVII e XVIII”, detalha.
No momento, são elaboradas estratégias logísticas e operacionais para o transporte até o Parque de Manutenção, localizado no Bairro de Fátima, onde será retirada a ferrugem e feita a pintura para deixar a peça pronta para exposições.
“Já temos um local pra ele em outra O.M (Organizações Militares), mas pode ser montada uma exposição itinerante. A ideia é construir uma carreta e ele ficaria no 10º Dsup (Depósito de Suprimento), uma unidade de logística, na salvaguarda para efeito de preservação”, completa.
Além disso, há expectativa que outros dois canhões integrem o acervo de origem do Museu da Imagem do Som. “Ainda estamos nas tratativas, não é nada feito ainda, até porque esses bens têm um custo, temos que buscar recursos para que seja feita a manutenção correta”, pondera.
Não há informação precisa sobre o peso do canhão. “Ele integrava provavelmente o Forte Nossa Senhora de Assunção no começo e foi guardado lá (naquela região) porque ele era o campo de pólvora, onde o exército treinava, então sabe-se que alguns canhões, já nas décadas de setenta e oitenta, tinham sido identificados lá na área e tinha essa possibilidade de encontrar mais”, acrescenta Luís Mafrense.
“O campo de pólvora era onde o exército treinava. Então, muito provavelmente foi um um local que eles decidiram acondicionar esses canhões, esses materiais bélicos e acabou sendo esquecido lá”, explica.
Na época do achado, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) chegou a produzir, por meio da Coordenadoria do Patrimônio Cultural e Memória (Copam), um relatório com informações técnicas do achado, segundo matéria do Diário do Nordeste. O laudo apontava:
“canhão de modelo não identificado com 3,20 m de comprimento e calibre 14,5 cm. O objeto encontra-se em um estado corrosivo generalizado. Há marcas circulares nas suas laterais. Não há base e nenhuma parte acessória.”
No sítio arqueológico da Estação Ferroviária João Felipe foram encontrados também fragmentos de garrafa de grés e de vidro, cerâmica e fragmentos de faianças de procedência inglesa. Esse material segue com a instituição de guarda, que no caso é o IPGA.