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AVC e infarto causam 8,6 mil internações por ano no Ceará em média

Sintomas infarto

Falta tempo para cuidar da alimentação, do corpo, da mente… As consequências da rotina imposta para a maioria da população brasileira – além do fator genético – podem surgir como doenças cardiovasculares. Dentre as principais, infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC) causam uma média de 8,6 mil internações por ano no Ceará.

Por isso, especialistas alertam para sintomas e as formas de prevenção dos problemas que são as maiores causas de mortes no mundo. O infarto, por exemplo, atinge de 300 mil a 400 mil pacientes no País e de cada cinco a sete casos, há um óbito, como estima o Ministério da Saúde (MS).

Somando os casos de infarto e AVC, entre 2014 e 2013, foram 86.508 atendimentos, sendo 8.650 pacientes com necessidades de cuidados médicos por ano, no Estado, como registra o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) do MS.

José Carlos Pompeu, coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital de Messejana, unidade referência neste tipo de atendimento, conhecida como Hospital do Coração, explica que há um aumento dos casos devido ao maior número de pessoas com obesidade.

“Junto vem o combo da hipertensão, da diabetes e do colesterol alto. Isso faz com que as doenças cardiovasculares fiquem mais frequentes”, resume. Além disso, existe um fator intensificado na atualidade: o estresse.

“A própria saúde mental tem piorado na população, com questões como a violência nas grandes capitais, o que tem causado o desenvolvimento da hipertensão”, frisa. Isso cria uma “atmosfera propícia” para as doenças cardiovasculares. Mas, afinal, qual a diferença entre infarto e AVC?

Enquanto o infarto é a morte de células do músculo do coração devido à formação de coágulos, o AVC leva à paralisia da área cerebral sem circulação sanguínea pelo entupimento ou rompimento dos vasos.

Soma-se aos fatores citados pelo doutor Pompeu como causas das doenças, o envelhecimento da população. “Tem estudos mostrando que a gente usa mais a rede de saúde dos 60 anos em diante do que do zero aos 60”, estima.

Esse maior volume de pacientes internados por infarto e AVC é motivo de preocupação para as redes de saúde públicas e privadas.

A preocupação, inclusive, também está ligada à necessidade de urgência para o atendimento destes pacientes, como forma de evitar sequelas e mortes.

“Tanto para o AVC quanto para o infarto, faz diferença ser atendido nas três primeiras horas – a hora mágica para ser atendido –, quanto menor esse tempo melhor. Os resultados pioram depois disso”, conclui Pompeu.

Conforme a farmacêutica Boehringer Ingelheim, cerca de 30% dos pacientes que sobrevivem a um AVC ficam com sequelas graves no Brasil. Além disso, em relação ao infarto, há uma projeção de aumento na incidência de mortalidade em países como Brasil, Rússia e China, de até 250% até 2040.

Em dezembro do último ano, o advogado Carlos Alberto Diógenes de Castro, de 66 anos, considera que “bateu na porta do céu” quando teve um AVC isquêmico e um infarto ao mesmo tempo.

A família foi ágil ao levá-lo para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas o paciente teve de ficar nove dias entubado e mais 17 dias internado no Hospital do Coração.

“Foi algo repentino, eu estava em casa vendo televisão com minha netinha quando apaguei, faltou a visão. Meu nível de consciência foi lá pra baixo e, se não fosse a agilidade da minha esposa de me levar para o hospital, eu teria falecido”, lembra.

Diógenes, com histórico de doenças cardiovasculares na família, cuidava da alimentação, mas não conseguia manter uma rotina de exercícios devido às dores no joelho. De todo modo, o diagnóstico foi um grande susto porque, até então, ele acreditava estar bem de saúde.

Há três meses, o advogado está num processo de reabilitação cardíaca e volta à unidade de saúde onde ficou internado, mas agora para evitar novos episódios das doenças. Para isso, ele faz a prática de exercícios monitorado por uma equipe.

“Fiz uma avaliação num teste de esteira e tem uma série de profissionais para avaliar o que a gente aguenta de carga. Hoje eu faço duas vezes na semana, mais ou menos uma hora, com monitoramento”, detalha.

Em relação aos sintomas do infarto, o doutor Pompeu explica que, diferente de Diógenes, os idosos com cognição prejudicada podem ter dificuldade de reportar os sintomas. As mulheres idosas e diabéticas também podem ter uma particularidade.

“Às vezes não vem a dor no peito típica do infarto, vem um mal estar geral, uma sudorese profusa – a pessoa ensopa a roupa de suor –, fica com agonia e desconforto na boca do estômago”, analisa.

Sintomas do infarto

  • Dor ou desconforto na região peitoral, podendo irradiar para as costas, rosto, braço esquerdo e, raramente, braço direito;
  • A dor costuma ser intensa e prolongada, acompanhada de sensação de peso ou aperto sobre o tórax;
  • Suor frio;
  • Palidez;
  • Falta de ar;
  • Sensação de desmaio;
  • Em idosos: o principal sintoma do infarto agudo do miocárdio pode ser a falta de ar. A dor também pode ser no abdome, semelhante a dor de uma gastrite ou esofagite de refluxo, mas é pouco frequente;
  • Nos diabéticos e idosos, o infarto também pode ocorrer sem sinais específicos. Por isso, deve-se estar atento a qualquer mal-estar súbito.

Sobre o AVC, o Pompeu aponta que os sintomas em geral são os mesmos: “perda da mobilidade de um membro, dificuldade de falar, desvio da rima labial.”

Sintomas do AVC

  • Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo;
  • Confusão mental;
  • Alteração da fala ou compreensão;
  • Alteração na visão (em um ou ambos os olhos);
  • Alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar;
  • Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente. 

Pedro Duccini, cardiologista e arritmologista, integrante da Sociedade de Cardiologia de São Paulo, analisa que o estilo de vida de pessoas mais jovens também leva este público a episódios de AVC e infarto.

“Os jovens são muito mais expostos a fatores de risco do que eram antigamente, e ainda tem a volta do cigarro e a vinda do vape (cigarro eletrônico), as cobranças e os estresses maiores. Então, vai ser mais fácil do jovem infartar hoje do que em outros tempos”, completa.

O especialista também reforça a necessidade de atendimento rápido para evitar prejuízos a longo prazo para os pacientes.

O tratamento do infarto acontece em emergência com intervenção cirúrgica e/ou medicamentosa, com uso de anticoagulantes, por exemplo. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) Ceará começou a ofertar o tratamento trombolítico na rede pré-hospitalar, em 2017, como forma de desobstruir a artéria afetada pelo infarto.

O trombolítico é aplicado no local em que o paciente é atendido pela equipe do Samu 192 Ceará, que tem 100% de cobertura territorial. O tratamento é administrado de forma precoce nas ambulâncias, aumentando as chances de sobrevivência e reduzindo possíveis sequelas.

Já o tratamento do AVC é feito nos Centros de Atendimento de Urgência, que disponibilizam e realizam o procedimento com o uso de trombolítico, conforme Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) específico.

A reabilitação dos pacientes pode ser realizada nos Centros Especializados em Reabilitação (CERS). A melhor forma de tratamento, atendimento e reabilitação, que podem contar inclusive com medicamentos, devem ser prescritos por médico profissional e especialista, conforme cada caso, como avalia o Ministério da Saúde.

Uso de Inteligência Artificial

A capital cearense identificou 1.400 pacientes, entre 20 e 59 anos, com alto risco cardíaco por meio do uso de Inteligência Artificial a partir dos dados dos usuários dos postos de atenção básica analisados por uma equipe na Central de Monitoramento da Saúde. A inovação foi implantada há pouco mais de um mês e mutirões são realizados aos sábados para atender esses pacientes.

O secretário da Saúde Galeno Taumaturgo acrescenta que a tecnologia permite mapear pessoas com diabetes, hipertensão, pessoas com risco cardiovascular, por exemplo, para ter ações mais efetivas para a jornada do paciente.

“Podemos prevenir doenças evitáveis, a necessidade de Unidade de Terapia Intensiva e de leito hospitalar. O objetivo é fazer um trabalho proativo e diminuir muito a necessidade de se internar, esse é o grande diferencial”, completa.

Cuidados com a saúde

Para José Carlos Pompeu, não há segredo: a prevenção das doenças cardiovasculares passa pela adequação do estilo de vida com o controle do peso e a prática de atividades físicas regulares.

“O sedentarismo é fator de risco porque o indivíduo tem o estado pró-inflamatório nas artérias. A atividade física, além de melhorar o humor e a mobilidade, causa uma melhora da inflamação arterial. Por isso que é importante para a proteção cardiovascular”, frisa.

O coordenador do Hospital do Coração aponta uma particularidade em relação aos cuidados entre pessoas que roncam devido à apneia do sono.

“Tem um fator de risco pouco lembrado, mas que vem ganhando destaque na literatura, que é a apneia do sono. Ela aumenta as chances dos indivíduos desenvolverem complicações cardiovasculares que precisam ser lembradas e combatida”, detalha.

A apneia acontece com pausas respiratórias e ao longo da noite porque a via aérea fica obstruída “como se alguém tivesse lhe asfixiando”. “Isso gera a liberação noturna de hormônios do estresse e isso perturba a pressão arterial e compromete a qualidade de vida do paciente que fica muito cansado e dificulta o controle da pressão arterial”, completa.

Pedro Duccini concorda que a mudança nos hábitos dos pacientes é determinante para reduzir o risco cardíaco. “São oito pilares para que a gente possa reduzir isso”, detalha.

  • Prática de atividade física
  • Combate à obesidade
  • Controle do colesterol
  • Controle da pressão
  • Controle da ingestão do açúcar
  • Gerenciamento do estresse
  • Boa qualidade do sono
  • Parar de fumar

Camila Ferraz, gerente médica da Boehringer Ingelheim no Brasil, observa que a tecnologia é fundamental no cuidado de pacientes com doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, porque permite diagnósticos mais rápidos e precisos, “o que é crucial para intervenções eficazes.”

“A tecnologia não apenas melhora a eficiência no diagnóstico e tratamento, mas também eleva o padrão de cuidado oferecido aos pacientes e capacita os profissionais a estarem melhor preparados para lidar com situações complexas, resultando em um atendimento mais eficaz e salvando mais vidas.”

Camila analisa que, para melhorar a qualidade do acompanhamento de pacientes com infarto e AVC, é necessário adotar uma abordagem holística. “Antes de tudo, é importante investir na prevenção, promovendo campanhas de conscientização sobre fatores de risco, como hipertensão, tabagismo e sedentarismo, e incentivando hábitos saudáveis na população”, completa

No campo clínico, como acrescenta, o diagnóstico precoce e o tratamento rápido continuam sendo pilares fundamentais, o que pode ser potencializado por tecnologias avançadas.

“Nesse contexto, o programa Angels desempenha um papel relevante. É uma iniciativa global dedicada a melhorar a qualidade do atendimento ao paciente com AVC, oferecendo treinamento intensivo para profissionais de saúde, fornecendo as ferramentas e protocolos mais recentes para uma resposta rápida e eficaz”, exemplifica dentre as tecnologias disponíveis.

No Ceará, o Angels já capacitou centros de saúde, como o Hospital Regional do Cariri (HRC), o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) e o Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral.

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